Demon Slayer: Infinity Castle – Um Espetáculo Visual que Acerta em Cheio, Mas Tropeça nos Flashbacks



O fenômeno Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba voltou a incendiar os cinemas com o aguardado Infinity Castle, primeiro de uma trilogia de filmes que adapta o arco final do mangá de Koyoharu Gotouge. Lançado no Japão em 18 de julho de 2025, com estreia nos EUA em 12 de setembro via Crunchyroll e salas selecionadas, o filme dirigido por Haruo Sotozaki e produzido pelo estúdio ufotable entrega o que os fãs esperavam: uma explosão visual de tirar o fôlego, lutas coreografadas com precisão cirúrgica e um peso emocional que corta mais fundo que a lâmina de Tanjiro. Mas, mesmo sendo um espetáculo 10/10 em sua essência – uma obra-prima de animação que eleva o padrão do gênero shōnen no cinema –, Infinity Castle carrega um pequeno pecado: flashbacks excessivos que, embora bem executados, freiam o ritmo e poderiam ter sido reservados para uma possível adaptação episódica, como ocorreu com Mugen Train em 2021 após seu sucesso nos cinemas.

Demon Slayer não é estranho a feitos grandiosos. Desde o sucesso estrondoso de Mugen Train em 2020, que quebrou recordes de bilheteria e se tornou o filme de anime mais lucrativo da história, a franquia estabeleceu um padrão quase inalcançável. Infinity Castle mergulha no arco homônimo, cobrindo aproximadamente os capítulos 140 a 152 do mangá, focando em três batalhas cruciais: Shinobu Kocho contra Doma, Zenitsu Agatsuma contra seu antigo colega de treinamento e agora Lua Superior, Kaigaku, e Tanjiro Kamado ao lado de Giyu Tomioka enfrentando Akaza. Essas lutas, ambientadas na fortaleza interdimensional de Muzan Kibutsuji – um labirinto de corredores infinitos e armadilhas letais –, avançam o drama central de Tanjiro em sua missão para salvar Nezuko e derrotar o rei dos demônios. A promessa? Ação desenfreada, visuais que desafiam a retina e um passo crucial rumo ao desfecho da saga.

E, meu Deus, como a ufotable entrega. A animação é um delírio visual: o Castelo Infinito, com suas escadarias impossíveis e salas que desafiam a gravidade, parece saído de um sonho febril de Escher, animado com cores vibrantes e uma fluidez que faz cada golpe de espada parecer uma pintura em movimento. A trilha sonora de Yuki Kajiura e Go Shiina, com a abertura “Mugen” de MY FIRST STORY x HYDE, amplifica a tensão e a emoção, especialmente nas sequências de ação. Shinobu brilha com sua graça letal contra Doma, destilando veneno e vingança; Zenitsu, em um raro momento de seriedade, enfrenta Kaigaku com uma Respiração do Trovão eletrizante, carregada pela traição de seu antigo companheiro; e a dupla Tanjiro e Giyu contra Akaza entrega um confronto visceral, com a Respiração da Água e do Sol colidindo contra a força bruta da Lua Superior. É impossível não se arrepiar com o impacto de cada técnica. Em termos técnicos, é um 10/10 – um testemunho do porquê a ufotable é reverenciada como uma das melhores do ramo.

Mas nem tudo é perfeito. Minha crítica – e ela é pequena, mas necessária – recai sobre os flashbacks. Não me entenda mal: Demon Slayer sempre usou memórias para dar profundidade aos personagens, e Gotouge tem um talento especial para tornar até vilões monstruosos como Doma ou Kaigaku tragicamente humanos. No entanto, Infinity Castle exagera na dose. As cenas de ação são interrompidas por longos interlúdios que revisitam o passado de Shinobu, Kaigaku e Akaza, muitas vezes recapitulando informações que os fãs do mangá ou das temporadas anteriores já conhecem. Esses momentos, embora belamente animados, quebram o ritmo frenético que o arco do Castelo Infinito exige. O filme, com suas 2 horas e 10 minutos, parece inchado em certos pontos, quando uma edição mais enxuta poderia ter mantido a adrenalina no máximo. Para um filme que serve como o pontapé inicial de uma trilogia – formatada para capturar o escopo dramático do arco, ao contrário das compilações episódicas de arcos anteriores –, essa escolha narrativa parece mais adequada a um formato de TV, onde pausas reflexivas cabem melhor sem comprometer a urgência. Cortar ou reduzir esses flashbacks teria tornado a experiência cinematográfica ainda mais impecável, deixando as introspecções mais extensas para uma possível adaptação episódica no futuro, seguindo o modelo de Mugen Train.

A reação dos fãs e críticos reforça essa percepção. No X, posts oscilam entre êxtase pelos visuais (“A ufotable tá brincando com o CGI, é outro nível!”) e frustração com o pacing (“Por que tanto flashback? Deixa isso pro anime!”). No MyAnimeList, o filme ostenta uma nota sólida de 8.9/10, mas resenhas apontam que “o ritmo sofre com pausas desnecessárias”. Ainda assim, o consenso é que Infinity Castle é um triunfo, especialmente para quem prioriza emoção e espetáculo sobre um ritmo perfeitamente uniforme. A bilheteria já reflete isso: o filme arrecadou ¥2.3 bilhões (cerca de US$15 milhões) no fim de semana de estreia no Japão, rivalizando com Mugen Train e superando To the Hashira Training (2024).

Com dois filmes ainda por vir – o próximo previsto para 2027 – e a possibilidade de uma adaptação episódica inspirada no sucesso de Mugen Train, Demon Slayer: Infinity Castle acerta ao entregar o que a franquia faz de melhor: coração, ação e uma produção que beira a perfeição. Mas, ao insistir em flashbacks que diluem a intensidade, ele nos lembra que até obras-primas podem ter arestas. Minha sugestão? Assista no cinema, maravilhe-se com cada quadro e guarde a paciência para as reflexões mais longas em uma eventual série. Este é o começo do fim para Tanjiro e cia., e, apesar dos tropeços, é impossível não querer acompanhar até o último corte.

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